A Digestão Extracelular
O sistema digestório dos animais é
a sede principal das transformações dos alimentos.
Pode ser completo (tubo digestivo dotado
de duas aberturas: boca e ânus) ou incompleto (tubo
digestivo com uma única abertura – encontrado nos cnidários e
platelmintos).
Em alguns grupos de animais o sistema digestório
não termina no ânus, mas numa cavidade denominada cloaca.
Possuem cloaca os peixes, os anfíbios, os répteis, as aves e os
mamíferos monotremados.
A
figura abaixo mostra quatro esquemas de aparelho digestivo na
série animal. Os números 1, 2, 3 e 4 referem-se respectivamente
aos moluscos, insetos, nematódeos e anelídeos.
O sistema digestório completo consta de um tubo
digestivo e glândulas anexas.
O tubo digestivo dos mamíferos é constituído de
boca (1), faringe, esôfago (3), estômago (5), intestino e ânus.
O intestino apresenta duas porções: o delgado
(6 - constituído de duodeno e jejuno-íleo) e o grosso (constituído
de ceco, colo (8) e reto).
As glândulas anexas são o fígado (2), o pâncreas
(4) e
as glândulas salivares.
O fígado apresenta um órgão em forma de bolsa (7
- a
vesícula biliar) onde fica armazenada a bile. Esse órgão possui
um duto de desembocadura no duodeno (o canal colédoco) por onde
a bile é eliminada no intestino.
As aves possuem uma dilatação no esôfago (o
papo) onde o alimento é amolecido, e seu estômago possui duas
porções: o proventrículo e a moela. No proventrículo ocorre a
digestão química de proteínas e a moela faz o papel de dentes,
triturando os alimentos. O papo é encontrado também em anelídeos
e moluscos com a mesma finalidade: amolecer os alimentos.
Veremos como acontece a digestão extracelular
nos seres humanos.
Após a mastigação, o alimento é deglutido. Na
faringe, no esôfago, no estômago e nos intestinos ele é impelido
pelos movimentos peristálticos, cuja ação é involuntária,
controlada pelo sistema nervoso autônomo. Ao passar em órgãos
como a boca, o estômago e o intestino, os alimentos sofrem ações
químicas dos sucos digestivos.
Podemos dividir o processo químico da digestão
em etapas que ocorrem em órgãos diversos com nomes diferentes:
insalivação (ocorre na boca), quimificação (ocorre no estômago)
e quilificação (ocorre no intestino).
SUCOS DIGESTIVOS
|
ÓRGÃOS ELABORADORES |
ENZIMAS COMPONENTES |
Saliva
|
Glândulas salivares |
Amilase salivar (ptialina) |
Suco gástrico
|
Estômago |
Pepsina, renina |
Suco entérico |
Intestino delgado |
Maltase, lactase, peptidase,
Lípase entérica, sucrase(invertase)
|
Suco pancreático |
Pâncreas |
Tripsina, nucleases, quimotripsina,
lípase pancreática,
amilase pancreática
|
Bile
|
Fígado |
Não
contém enzimas |
Insalivação
glândulas salivares – saliva
Quimificação
Estômago – suco gástrico
-
Pepsina
-
Renina
-
Ácido clorídrico
Quilificação
Suco entérico
-
Maltase
-
Lactase
-
Peptidase
-
Lípase entérica
-
Invertase (sucrase)
Suco pancreático
-
Tripsina
-
Quimotripsina
-
Nucleases
-
Lípase pancreática
-
Amilase pancreática
Bile – fígado – não contém enzimas
Condições para a insalivação
-
Ação do sistema nervoso autônomo parassimpático,
estimulando a secreção de saliva. Essa ação se faz por
mecanismos reflexos: estímulo da visão, cheiro e gosto dos
alimentos.
-
Valor ótimo de pH ao redor de 7,0;
aproximadamente neutro.
-
Ação da saliva, que contém a enzima ptialina ou
amilase salivar. Sob a ação da amilase, o amido
hidrolisa-se, reduzindo-se a compostos de cadeia menor até
chegar à maltose.
Amido + H2O ---> maltose
glândulas salivares
Condições para a quimificação
-
Ação do sistema nervoso. A visão, o cheiro e o
sabor dos alimentos provocam uma reação do sistema nervoso
que envia impulsos às células da parede do estômago para que
este secrete o suco gástrico.
-
Ação do suco gástrico que contém essencialmente
água, ácido clorídrico e enzimas.
A pepsina provoca o rompimento das ligações
peptídicas entre os aminoácidos das proteínas, fragmentando-as
em peptídeos.
Proteínas + H2O ---> peptídeos
A renina produz a coagulação das proteínas do
leite permitindo que elas fiquem mais tempo no estômago para que
a sua digestão seja mais completa.
O ácido clorídrico proporciona um pH ao redor de
2,0; que é um valor ótimo para a atividade da pepsina. Além
disso, tem ação germicida, reduzindo a fermentação bacteriana.
Condições para a quilificação
O intestino delgado está separado do estômago
por uma válvula de estrutura muscular denominada piloro. Sua
primeira porção, de cerca de l5 cm de comprimento, é o duodeno,
seguindo-se ao jejuno-íleo que se comunica com o intestino
grosso. São as seguintes as condições para ocorrer a
quilificação:
-
Valor ótimo de pH igual a 8,0. (O suco
pancreático é rico em bicarbonato de sódio e tem efeito
alcalino).
-
Ação do sistema nervoso autônomo, estimulando a
secreção intestinal.
-
Ação hormonal. A ação das gorduras do quimo
provoca a liberação da bile e do suco pancreático.
-
Ação dos sucos digestivos.
A bile, embora não contenha enzimas, possui sais
biliares que facilitam a emulsificação das gorduras, favorecendo
a ação das lipases sobre as gotículas de gordura da emulsão e a
solubilização dos produtos finais da digestão, para que possam
introduzir-se nos vasos linfáticos da mucosa intestinal.
A hidrólise das proteínas é catalisada pela
tripsina e pela quimotripsina, enzimas do suco pancreático, que
as transformam em peptídeos. Estes, hidrolisados pelas
peptidases, convertem-se em aminoácidos.
Proteínas + H2O ---> peptídeos
Peptídeos + H2O ---> aminoácidos
O amido não digerido na boca, sob a ação da
amilase pancreática, é transformado em maltose.
Os dissacarídeos (maltose, sacarose e lactose)
são transformados em monossacarídeos.
Maltose + H2O ---> glicose + glicose
Sacarose + H2O ---> glicose + frutose
Lactose + H2O ---> glicose + galactose
As gorduras são inicialmente emulsificadas pela
bile e, posteriormente, hidrolisadas pelas lipases entérica e
pancreática que as transformam em ácidos graxos e glicerol.
Gorduras + bile ---> gordura emulsificada
Gordura emulsificada ---> ácidos graxos + glicerol
As nucleases catalisam a hidrólise de ácidos
nucléicos, transformando-os em nucleotídeos.
Interações hormonais que auxiliam
na liberação de secreções no sistema digestivo humano:
A colecistocinina desencadeia o esvaziamento da vesícula biliar
no duodeno e estimula a secreção do suco pancreático.
A secretina estimula a liberação do suco pancreático no duodeno.
A gastrina propicia o aumento das secreções gástricas com seu
conteúdo proteolítico.
O pâncreas, estimulado pela secretina, possibilita a
alcalinização do intestino delgado.
A enterogastrona inibe a secreção de suco gástrico e retarda o
esvaziamento do estômago.
A absorção dos nutrientes
Essa é a última etapa, consiste na penetração
dos produtos da digestão através da mucosa intestinal.
Os produtos não aproveitáveis sofrem
desidratação no intestino grosso, transformando-se num material
pastoso e castanho denominado fezes, que é eliminado do
organismo através da defecação.
Os monossacarídeos e os aminoácidos
são absorvidos pela parede do intestino delgado e transportados
pela corrente sangüínea aos vários tecidos.
Os ácidos graxos são absorvidos
pelos vasos linfáticos.
A água, as vitaminas e os sais
minerais não sofrem digestão, portanto são absorvidos
integralmente pelos capilares sangüíneos.
Uma parcela da glicose absorvida é utilizada
como fonte de energia na respiração; a outra parte é armazenada
no fígado e nos músculos na forma de glicogênio.
Os ácidos graxos são utilizados em parte como
fonte de energia; o restante é empregado na síntese de gorduras.
Os aminoácidos são utilizados para a síntese de
novas proteínas, que podem formar estruturas celulares,
pigmentos respiratórios, enzimas, hormônios, anticorpos e
coagulantes sangüíneos.
A figura ilustra a
digestão nos ruminantes, entre os quais citamos bois, cabras,
girafa, camelo, veado, etc.
Durante várias horas do
dia apenas cortam os vegetais e os engolem sem mastigação.
Depois de mastigado, o alimento, acompanhado de grande
quantidade de saliva, é deglutido, passando pela faringe e
seguindo pelo esôfago até a pança. Aí existem bactérias que
secretam enzimas capazes de hidrolisar a celulose,
transformando-a em glicose.
O estômago é dividido
em 4 compartimentos: pança ou rúmen, barrete ou retículo,
folhoso e coagulador. Desses quatro, apenas o coagulador
apresenta glândulas secretoras de enzimas, funcionando,
portanto, como o verdadeiro estômago. Na primeira câmara
estomacal (rúmen), que funciona como armazenadora, ocorre uma
intensa fermentação, proporcionada por uma abundante flora
bacteriana.
Pouco a pouco, o alimento passa para o retículo onde é
compactado em massas mais ou menos esféricas e, por inversão
voluntária do peristaltismo do esôfago, essas massas voltam à
boca e são novamente mastigadas. Esse retorno do rúmen à boca é
o que se denomina ruminação.
Deglutido novamente, passam ao folhoso (omaso) onde a água excedente é
absorvida, depois, no coagulador (abomaso), ocorre a digestão química e
finalmente passam para o intestino, onde se completa a digestão.
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